A juventude rural brasileira está, há tempos, no centro das discussões sobre o futuro da agricultura familiar e das cooperativas. O debate sobre sucessão rural deixou de ser apenas um alerta para se tornar uma pauta estratégica, com caminhos concretos trilhados por jovens protagonistas em seus territórios. A trajetória da Juventude da UNICAFES Nacional é prova viva disso: um movimento que brotou da necessidade de pertencimento e que, hoje, se enraíza como força política, produtiva e cultural no cooperativismo solidário.
Desde a criação da UNICAFES, em 2005, a presença jovem tem sido construída com insistência, criatividade e visão de futuro. Mas foi a partir de 2012, com a realização dos Encontros Nacionais de Juventude, que esse protagonismo ganhou corpo e agenda própria. Educação no campo, acesso à terra, comunicação comunitária, políticas públicas específicas e fortalecimento de cooperativas de base jovem passaram a compor uma pauta sólida e conectada com os desafios da permanência da juventude no meio rural.
O marco definitivo desse processo veio em 2016, com a criação do Coletivo Nacional de Juventude da UNICAFES, garantindo autonomia organizativa, representatividade regional e um canal direto com a diretoria executiva da confederação. A partir daí, os jovens deixaram de ser apenas pauta para se tornarem sujeitos políticos com voz ativa em conselhos, fóruns nacionais e internacionais — como o CONJUVE — e projetos que integram economia solidária, agroecologia, comunicação popular e inovação tecnológica.
Com a institucionalização do Comitê, a juventude passou a operar em rede, com foco em ações formativas, campanhas de visibilidade e articulação de projetos de base. A comunicação digital foi outro eixo estratégico, com redes sociais próprias, vídeos e espaços de escuta ativa, dialogando diretamente com a juventude cooperativista em todos os cantos do Brasil. Essa conexão entre tecnologia, cultura e identidade rural revelou novos caminhos para a construção de um cooperativismo vivo e plural.
Essa construção se fortaleceu inclusive nos momentos mais críticos, como o período da pandemia. Foram realizados encontros virtuais, campanhas de solidariedade e formações online, mantendo a chama acesa mesmo em tempos de distanciamento. Com criatividade e compromisso, a juventude da UNICAFES soube reinventar os espaços de articulação e fortalecer redes colaborativas, sempre com foco na transformação das realidades locais.
A presença juvenil também tem se consolidado nas pautas globais, como nas mobilizações em torno do Ano Internacional das Cooperativas (2025), reafirmando a importância da agricultura familiar e do cooperativismo como motores de desenvolvimento sustentável com justiça social. E é nesse contexto que os jovens da UNICAFES seguem semeando práticas e ideias inovadoras, ancoradas em valores solidários e no desejo de construir territórios vivos e cooperativos. Destaca-se, nesse processo, a participação da secretaria ou do coletivo na construção do Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural — por meio de oficinas, comitês e outras atividades —, culminando na recente conquista da aprovação da Política Nacional de Juventude e Sucessão Rural.
A UNICAFES teve papel fundamental na criação do Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural, articulando jovens de todo o país em oficinas, comitês e processos de escuta ativa, garantindo que suas vozes fossem protagonistas na formulação da política. Essa articulação culminou na aprovação da Política Nacional de Juventude e Sucessão Rural em 2024, um marco histórico que reconhece o papel estratégico da juventude na permanência e no desenvolvimento sustentável do campo. A participação ativa da UNICAFES nesse processo evidencia a força do cooperativismo solidário como agente de incidência política e construção de políticas públicas voltadas à sucessão rural com justiça social.
O PECSOL (Programa de Educação do Cooperativismo Solidário) também tem se destacado como um espaço potente para o fortalecimento das juventudes rurais. Ao integrar formação política, gestão cooperativa e práticas de economia solidária, o programa possibilita que jovens se reconheçam como sujeitos ativos na transformação dos seus territórios. A presença juvenil nas turmas do PECSOL tem renovado o debate sobre sucessão rural e inspirado experiências inovadoras de organização produtiva e protagonismo local. Nesse processo, cada jovem participante é semente de mudança, cultivando um cooperativismo enraizado na identidade, diversidade e sonhos da juventude do campo.
Mais do que herdeiros de uma tradição, esses jovens são inventores de novas formas de cooperar, resistir e prosperar. O desafio agora é garantir que os espaços de decisão e financiamento acompanhem esse dinamismo, oferecendo suporte técnico, político e institucional à continuidade dessa construção coletiva. Fortalecer a juventude é garantir o amanhã das cooperativas da agricultura familiar.
Que sigamos, portanto, cultivando este campo fértil da juventude, onde cada encontro, formação e projeto é uma semente de futuro — porque o cooperativismo solidário só se sustenta quando é capaz de passar o bastão e abrir caminho para novas gerações seguirem transformando o mundo.
Raniele Alcantara – Assessoria da Juventude da UNICAFES Nacional